Será o idoso motivador de mudanças?


Autor: Cristina Schonwald de Oliveira

Gestora de Assuntos para Terceira Idade

“Eu mudei minha vida por causa dele.” Esta frase ficou martelando nos meus pensamentos. Foi ouvida dentro de um ambiente geriátrico, onde a vulnerabilidade se encontra tanto naquele que ali está recebendo cuidados, o idoso, como nos seus familiares. Iniciei, então, algumas reflexões que compartilho aqui, através de questionamentos.

Até que ponto é salutar mudar toda uma vida em função de outra vida, mesmo que seja um ente querido? Será que quem está fazendo isso, está fazendo por si mesmo ou pelo idoso ou, por que não incluir aqui, pelos outros (familiares ou amigos)? A influência “dos outros”, da opinião deles, é muito forte e determinante. Tomar decisões de grandes mudanças de vida não é fácil e, na maioria das vezes, é realizada no calor de fortes emoções, sem que os sentimentos estejam em equilíbrio para uma correta ponderação.

Será que uma certa vaidade não se apresenta escondida por trás desse gesto, em que figurar nas mídias sociais como uma pessoa abnegada, que se dedica totalmente ao idoso, acaba sendo gerador de muitas curtidas e compartilhamentos que reforçam a sua tomada de decisão? Ou se apresenta sob a máscara de ser aquele familiar coitado, que renuncia a sua vida social?

Talvez, quem sabe, pelo fato de que no seu núcleo familiar sempre foi assim, então surge a crença arraigada de que o correto é deixar a própria vida de lado e se dedicar ao idoso? Vale lembrar a questão do papel cultural feminino como definidor na resolução dessas questões.

Mas existe o certo ou o errado? Não é a minha verdade diferente da sua verdade? Não são os pensamentos e sentimentos diferentes, simplesmente por serem as pessoas diferentes, oriundas de outras culturas, de outras vivências, de outra criação familiar milenar? Será que a influência de credo religioso também não está interferindo nas suas decisões?

Bem, são muitas mais as questões que poderiam ser aqui colocadas, mas penso que é sempre bom refletir um pouco antes de formar juízo sobre as atitudes das pessoas perante grandes decisões em momentos delicados de suas vidas e, assim, não julgar as suas ações com muita rapidez e com muita facilidade, sem procurar antes saber o que realmente está acontecendo naquele núcleo familiar. Por vezes, é necessário mesmo mudar a trajetória de vida, mesmo que temporariamente, para poder entender e ter a experiência necessária para a gestão de um futuro com mais equilíbrio e felicidade.

É importante cuidar para não culpar o idoso pelas mudanças realizadas, pois ele pode ser o motivador, mas não o culpado. É nesse momento que aquele que está tomando decisões se torna protagonista e responsável por mudar a história da sua própria vida e a de quem ama. A decisão é dele, e não é para ser motivo de reclamação ou geradora de processo degenerativo de sua saúde física, mental ou emocional. Dentro deste contexto, é importante a procura por auxílio profissional terapêutico, tanto para iniciar como para acompanhar as etapas que acontecerão nesta nova trajetória.

Lembrando:

“Somos a pena na mão do exímio escritor, portanto, temos que ter cuidado com o tema da história que estamos escrevendo. Quando a nossa alma dita o tema, a história encontra o seu rumo.” Izabel Cristina Heberle.